Sonhar ou Subsistir? Para qual caminho está indo sua carreira?


Recentemente tive oportunidade de assistir a duas interessantes palestras que motivaram as postagens deste mês. Uma delas foi no final do semestre passado, quando eu ainda esta dando aulas como professora substituta e tive o prazer de assistir com meus alunos de graduação a palestra do supervisor geral das Lojas CEM José Domingues Alves (uma história de vida e uma construção de carreira inspiradora, que se iniciou aos 7 anos de idade quando teve seu 1o. emprego). Outra foi mês passado, também na universidade, dessa vez com os alunos de pós-graduação MBA Gestão de Pessoas, uma palestra com o responsável pelo setor de RH da Embraer, o engenheiro Simeão Lauro de Souza (palestra muito dinâmica, onde ele consegue ser  divertido e altamente técnico ao mesmo tempo). 

Apesar dos temas terem sido diferentes e o público também,  coincidentemente houve a mesma pergunta por parte dos alunos em ambas as palestras, e os 2 profissionais também por coincidência têm mais ou menos o mesmo tempo de casa, em torno de 25 anos na mesma organização. A pergunta dos alunos foi:

"O que lhe motiva a continuar na mesma organização durante todos estes anos?"

E ambos deram a mesma resposta: 

            "Através desta empresa eu pude realizar os meus sonhos!"

E cada um a sua maneira falou o quanto que a empresa em que trabalham os fazem felizes, realizados profissionalmente, propiciaram crescimento em suas carreiras e também para suas vidas como um todo. O que me chamou a atenção foi a prontidão em suas respostas, sem exitação e demonstrando satisfação em pertencer.

Depois da ultima palestra me veio o pensamento da frase do título desta postagem: sonhar ou subsistir. Quantas vezes uma organização só favorece a subsistência, mas não permite os sonhos. Em outras a rotina nos absorve e nos tira do foco, nos prende no "aqui agora", e acomodamos na subsistência, perdendo de vista os sonhos que nos impulsionaram no passado e a visão de futuro. 

Atualmente sabe-se que a gestão de carreira é de responsabilidade do indivíduo, o qual deve ter uma postura ativa. Investir na própria carreira é favorecer os meios concretos para a realização dos seus ideais, portanto acredito que sua gestão deve ser precedida da tomada de consciência de seus desejos, sonhos e sentido pessoal de missão. Uma carreira bem gerenciada permite também  ao profissional ganhar poder de escolha, tornando a entrada para uma organização de fato um relação. Claro que na prática isso nem sempre é tão simples, sobretudo quando se sente que é o momento de fazer ou se está em transição de carreira.

Enquanto estou refletindo me lembrava do Ciclo de Desenvolvimento de Carreira do autor Huberman (1997), que eu gosto muito. Para quem não conhece, de forma resumida este autor divide o ciclo de vida profissional nas seguintes fases: 

Entrada na carreira (2-3 primeiros anos): onde a pessoa entra em contato com a realidade real de sua profissão (“choque de realidade”). Fase de experimentação e autoavaliação.

Estabilização (4-6 anos): formação da identidade profissional, encontro com estilo próprio de trabalho.

Diversificação (7-25 anos): fase de maior criação/inovação, maior motivação na carreira.

Pôr-se em questão (25-35 anos): fase de questionamento, revisão e reflexão sobre sua vida e carreira

Serenidade e distanciamento afetivo (35-40 anos): fase onde o nível de previsibilidade dos eventos do trabalho é grande e há um menor investimento na profissão.

Desinvestimento: fase final de carreira onde não há mais investimento nem na profissão e nem na organização. Pessoa passa a se dedicar mais a si mesma. Dependendo da avaliação feita de sua carreira pode terminar com tranqüilidade essa fase, ou entrar em processo de amargura se a avaliação foi negativa. É um momento em que a pessoa pode ou caminhar em direção a aposentadoria ou redirecionar sua vida profissional.

O que tenho refletido nessas ultimas semanas é que a carreira é da pessoa, mas sua  vivência e possibilidade de efetiva realização depende de um contexto de relações dos mais diversos tipos e níveis de formalidade.

No que se refere a uma organização de trabalho (uma empresa, uma escola, setor público, etc) penso que mesmo nesses tempos modernos ela ainda exerce forte poder de direcionar a trajetória dos profissionais, mas um poder que é exercido a nível subjetivo. É um poder que atinge nossos ideais, nos tornando pessoas cada vez melhores e realizadas, assim como os palestrantes que cito acima. Um poder que alarga nossos horizontes, sobretudo interiores. Como dizia o supervisor das Lojas CEM, o qual tinha um sonho e desejo de crescimento desde criança e no meio de sua trajetória de vida, encontrou uma empresa que comungava os mesmos ideais, portanto poderia ali encontrar sua realização pessoal. Mas nós que estudamos a área de QVT e Saúde Mental no Trabalho, sabemos bem que esta não é bem a regra, são inúmeras as pesquisas que mostram o quanto esta influência da organização pode também ter alto poder desmotivador. 

Para facilitar esta reflexão que sugiro nas próximas postagens o tema Contrato Psicológico, que nos ajuda a compreender de forma técnica o processo subjetivo de adesão e compartilhamento de ideais e necessidades entre pessoa e organização. E a partir disso como a trajetória de carreira é influenciada. Um tema fundamental, mas que muitos empregadores não enxergam sua importância, não se dão ao trabalho de cultivar a relação organização – funcionário (via processos de gestão).

Quando relembro minha história profissional, felizmente eu tive superiores que se preocupavam em fortalecer vínculos, conhecer e satisfazer na medida do possível as necessidades de seus subordinados. Relembro meu primeiro emprego, já distante 20 anos, era uma pré-escola particular, pequena, que na época tinha 1 ano de existência. A proprietária era sonhadora, tinha idéias inovadoras para a época relacionadas a questão ecológica, e a forma como ela nos tratava nos motivava a investir nossos desejos naquela escola. Tive também outra experiência já na universidade na época de graduação, onde eu tinha uma espécie de bolsa trabalho na clinica escola do curso, e havia uma coordenadora que tinha a delicadeza de observar os gostos de todos os que freqüentavam a clinica (entre professores, estagiários e bolsistas), chegando a ponto de que diariamente a cozinha se tornasse um espaço de prazer, fazendo questão que houvesse os biscoitos preferidos de todos no espaço de café, para que os professores e estagiários recobrassem energia entre os atendimentos.

Outra experiência interessante era um grupo de pesquisa que eu participei onde todo começo e final de ano, a coordenadora fazia o ritual de recontar a sua trajetória, a trajetória do grupo, destacava as vitórias, os desafios vencidos e o prazer de estarmos juntos. Na minha pesquisa para a monografia do MBA em Gestão de Pessoas, também presenciei algo semelhante na primeira reunião do ano letivo no colégio pesquisado, onde os coordenadores pediram para os professores falarem porque escolheram continuar na escola naquele ano, e os novos falarem de suas motivações para escolherem aquele colégio, e juntos começaram a projetar o futuro próximo (ano letivo), selando um comprometimento pela mesma causa.

Enfim, com 11 anos de formada estou na fase onde é forte o desejo de criar, estudar, questionar o mundo e poder colocar a serviço do outro tudo o que aprendi. Na prática venho descobrindo que o melhor caminho para eu poder crescer na minha carreira é resgatar o espírito empreendedor que sempre me acompanhou desde os tempos de escola. O espírito empreendedor tem me ajudado a encontrar até o momento parceiros de trabalho, com quem posso experimentar num outro nível (relação profissional – profissional) a dimensão da adesão a um trabalho, projetos profissionais, motivada pela comunhão de ideais. 

Quando eu estiver na fase final de minha carreira desejo ser como estes dois palestrantes, que com minha realidade outros encontrem inspirações para viver seus sonhos.

                                                                                               Daniela



 
 





















Conteúdo e Quebra do Contracto Psicológico e Comportamentos Individuais de Gestão de Carreira

Um belíssimo material de pesquisa onde autora traz uma extensa revisão de literatura sobre o conceito de contrato psicológico.  

Para quem gosta de ler teses de mestrado/doutorado, que é meu caso, vai apreciar e muito este material. É um trabalho bem extenso, portanto estou em fase de leitura, mas do que li até agora  me ajudou a responder algumas reflexões que tenho feito sobre minha própria trajetória profissional. Essencialmente o contrato psicológico se refere a adesão interna que o individuo faz a uma organização a partir de uma relação de atendimento (ou não!) de expectativas e necessidades. Que necessidades são essas? Isso é bem relativo, mas tenho observado nos artigos que pesquisei se refere basicamente a cumprir aquilo que se promete, reconhecimento e oportunidade de crescimento.

Fica a dica desta excelente leitura!

                                               Daniela

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Conteúdo e Quebra do Contracto Psicológico e Comportamentos Individuais de Gestão de Carreira

Ana Paula Vieira Gomes Ferreira

Tese de Doutoramento em Ciências Empresariais
Área de Organização e Políticas Empresariais
Universidade do Minho – Portugal

Contratos psicológicos nas organizações: bases de sua construção

Este é um bom artigo conceitual para quem quiser ler um conteúdo breve, mas bem estruturado sobre contrato psicológico. O bom entendimento deste tema favorece que na relação organização x empregados, se saia do pensamento de senso comum de "vestir a camisa da empresa", para a compreensão de que o comprometimento e adesão aos objetivos organizacionais é um processo que ocorre à nível subjetivo a partir do dinamismo de relações cotidianas entre as partes. Importante notar o papel dos superiores nesta intermediação.

Uma boa leitura!

                                                                     Daniela

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Contratos psicológicos nas organizações: bases de sua construção

Maria Júlia Carvalho Anbreu e Georgina Alves Vieira da Silva

Revista de Gestão USP, São Paulo, v. 13, n. especial, p. 93-104, 2006

Resumo (conforme original)

Este artigo descreve e analisa a formação do contrato psicológico em uma grande empresa brasileira do setor de mineração. Primeiramente, faz-se revisão teórica a respeito do tema “contratos psicológicos”, descrevendo e explicando o fenômeno e sua importância. Em seguida, serão abordadas algumas das suas conexões com outros elementos intrínsecos e extrínsecos existentes na organização, como a comunicação chefe-subordinado, a fim de facilitar a compreensão da dinâmica comportamental e organizacional. Os dados foram coletados por meio de entrevistas individuais em profundidade, realizadas na área operacional (mecânicos e eletricistas) da gerência de manutenção de equipamentos de minas, localizada no Estado de Minas Gerais. O estudo caracteriza-se por realizar uma abordagem qualitativa e a análise utilizou o modelo proposto por Rousseau (1995), identificando 6 características da presença do contrato psicológico na organização. As conclusões do estudo apontam a existência de expectativas mútuas e de um pacto “invisível” entre indivíduo e organização, que chamamos de contrato psicológico e que tem correlação com o comportamento humano na organização.

Continue a leitura em: 

Motivação: o estudo dos fatores que influenciam os indivíduos a optar por ingressar em organização do setor público, do ramo de energia


O que mais gostei neste artigo é a visão de transformação positiva do contrato psicológico, já que em um primeiro momento a tendência é pensar no processo de rompimento, que é um evento mais comum, sobretudo em serviço público. 

Como poderá ser observado no artigo a oportunidade de desenvolvimento e crescimento na carreira é um itém importante no processo motivacional, maior até que salário e estabilidade.  

                                                                                              Daniela
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Motivação: o estudo dos fatores que influenciam os indivíduos a optar por ingressar em organização do setor público, do ramo de energia

Glaucio Santoro Nunes, Jordana Luiza Barbosa da Costa Veiga, Daniela Faria da Costa Barreto e Ana Alice Vilas Boas

Gestão & Regionalidade - Vol. 24 - Nº 72 - set-dez/2008


Resumo (conforme original)

As oportunidades de trabalho no setor público têm interessado um crescente número de indivíduos que optam por esse caminho em busca de estabilidade, qualidade de vida, oportunidade de construir uma carreira, treinamento e benefícios, entre outras vantagens oferecidas. Algumas razões são sugeridas para a busca do emprego público: elevação nas taxas de desemprego no setor privado; menor discriminação no processo seletivo quanto à idade, ao sexo e à universidade de formação; não-exigência de experiência prévia ou critérios estereotipados, tais como boa aparência, entre outros. O objetivo da presente pesquisa foi a verificação dos fatores que motivaram um grupo de pessoas a optar por um emprego no setor público, mais especificamente em uma empresa de economia mista de grande porte, da área de tecnologia e energia. As respostas dessas pessoas, que atualmente são funcionárias, foram reunidas por meio de entrevista estruturada e questionário,  reveladas neste artigo e comparadas aos resultados apresentados no artigo de Côrtes & Silva (2006). A tendência nas respostas dadas à maioria das questões foi a mesma em ambas as pesquisas. Os resultados mostram que os aspectos “estabilidade” e “imagem da empresa” foram os fatores mais indicados como motivadores para ingressar em uma estatal.

Conclusão (trecho que considero mais sugestivo para motivar a leitura do artigo)

p. 46.  "A ruptura do antigo contrato psicológico, cada vez mais evidente para a sociedade, acaba valorizando a questão da estabilidade do emprego público, que ainda mantém a característica da relação duradoura entre empresa e empregado. O ideal seria que a empresa trabalhasse o conteúdo de um novo contrato e que, com esse conteúdo, fosse realizado um novo pacto com os trabalhadores.
(...)
Observa-se ainda que houve uma mudança no contrato psicológico dos entrevistados. A maioria deles indicou a estabilidade e a imagem da empresa como fatores que a motivaram a participar do concurso. No entanto, os pontos positivos destacados por grande parte dos entrevistados, logo após o seu ingresso, foram a chance de construir uma carreira e a oportunidade de treinamento e desenvolvimento. Acredita-se que os primeiros meses de trabalho na empresa tenham afetado a motivação, o comprometimento e as intenções dos empregados, mudando suas expectativas em relação à organização."

Continue a leitura em:


Avaliação da Qualidade de Vida no Trabalho Pela Perspectiva do Modelo de Walton em Um Grupo de Empresas da Cidade de Piracicaba-SP

DALILA ALVES CORREA
DANIELA CRISTINA DOS SANTOS

Resumo


O presente estudo aborda a temática Qualidade Vida no Trabalho no contexto das ações empresariais destinadas à geração de estratégias competitivas. Parte-se do pressuposto que esforços destinados à elevação da qualidade de vida no trabalho, por parte das empresas, estão associados à busca de produtividade e aumento da competitividade organizacional. O objetivo do estudo foi investigar esta temática no contexto de empresas da cidade de Piracicaba/SP. Optou-se por uma pesquisa descritiva, elaborada sobre os pressupostos do Modelo de Qualidade de Vida de Walton(1974). Trata-se de um modelo que fornece oito aspectos típicos do ambiente de trabalho, propiciando um diagnóstico amplo em contextos empresariais. Utilizou-se questionário padronizado, elaborado de forma a permitir seu preenchimento a partir da realidade de cada contexto investigado. Os resultados mostram que este é um assunto que se apresenta de forma bem diversificada entre as empresas que participantes sendo observado que empresas de grande porte e do setor metalúrgico mostram-se mais estruturadas em relação a qualidade de vida. Observou-se ainda que o cumprimento dos aspectos legal-trabalhistas é um dos mais presentes nos contextos pesquisados. O estudo pretende contribuir para o debate sobre Qualidade de Vida no Trabalho fornecendo informações sobre uma amostra de empresas locais.


Trabalho apresentado no XI SEMEAD Seminários em Administração -Empreendedorismo em Organizações, FEA-USP, agosto de 2008

Texto completo em (anais):


A Gestão de Pessoas na capacitação em Terapia Ocupacional em Saúde Mental no Trabalho: novas competências e mercados

DANIELA CRISTINA DOS SANTOS


Terapeuta Ocupacional, Pós-graduada MBA em Gestão Estratégica de Pessoas

Resumo


Em saúde mental no trabalho tanto a literatura como a prática profissional apontam a intervenção organizacional como essencial na promoção da saúde mental do trabalhador, por propiciar a intervenção nos fatores psicossociais do trabalho e por conseqüência na origem das queixas de saúde. Em termos práticos esses fatores psicossociais para serem compreendidos devem ser contextualizados inseridos nos processos de Gestão de Pessoas na dinâmica intra organizacional que sofre influência da alta competitividade entre empresas.  Através de breve revisão de literatura será discutida a importância da Gestão de Pessoas, nova denominação da área de Recursos Humanos, na capacitação em terapia ocupacional em saúde mental no trabalho com o intuito de 1) apontar caminhos para formulação de estratégias de intervenção organizacional, 2) assinalar o interesse da área pelas parcerias interdisciplinares e 3)discutir a necessidade da aproximação da terapia ocupacional com a mesma, a fim de explorar novas possibilidades de intervenção e de mercado em empresas. Em uma releitura de pesquisas de intervenção de terapia ocupacional em saúde mental no trabalho constatamos importantes habilidades de gestão de relacionamentos humanos, como os grupos de reflexão, de aprendizagem, e sensibilização e negociação com chefias e trabalhadores, muito valorizadas atualmente nos processos de Gestão de Pessoas. Portanto para uma efetivo diálogo com essa área de conhecimento é preciso que mais terapeutas ocupacionais se dediquem a pesquisas sobre o tema.

 Artigo completo em: 

 Cadernos de Terapia Ocupacional da UFSCar, Vol. 16, No 1 (2008)
 

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